13.3.09

Salvações beethovenianas


Do carro
Vejo uma São Paulo atonal
Chuva e trânsito
O ritmo e o andamento
Tangenciam o caos

A atmosfera confusa
Aumenta a angústia
Pela condição paralítica
E revigora os demônios amotinados
Que a cabeça
Insistem em dominar

Chega a noite
E o violino-para-brisa
Não consegue clarear
A desfigurada Paulista

Motociclistas alucinados
E dissonantes buzinas
Conduzem com fúria
Suas montarias
Serpenteando carros
E desenhando impossíveis caminhos

No rádio
A Pastoral soa
Em surreal contrataste

Mais uma
Meia hora
E nada se move

Sob o viaduto
Grafites e borrões grotescos
São enfiados garganta abaixo
Mesmo sem querê-los

A Quinta se inicia
E parece ativar as locomotivas
Que se movimentam
Em uníssono bloco

Tudo para
Logo à frente
Parar novamente

Lá fora
Não há mais entendimento

Começa a Nona
Bálsamo oportuno
Só me resta agradecer ao criador
Por tão preciosa herança
Dois séculos nos separam
E como me mantém lúcido
Esta sua música
Na insana travessia diária
Da volta para casa

2 comentários:

Marcia H disse...

deu para imaginar seu percurso, os sons, a chuva, as cores dos grafites e a música tocando no seu carro

minha filhota curte quase todos os videos q aparecem aqui rsrs adorei a interpretacao da Badi Assad, uma música com gostinho de saudade de casa

obrigada por partilhar tantas coisas belas

Anônimo disse...

É só assim mesmo, com música, que se suporta este caos. Gostei muito da figura do parabrisa violino.