1.7.15

A terceira (e última) parte da saga



A mim foi narrada
No alto de uma montanha
Na cordilheira do Himalaia
Por um sherpa esgotado pelo esforço
Após uma fracassada tentativa
De atingir o topo

O vento forte e cortante
As frequentes avalanches
E o ar rarefeito
Nos obrigaram a cavar um buraco no gelo
E aguardar acordados o fim do tormento

E enquanto o tempo passava
O nativo assim falava:

“Conformada com a partida do Menestrel
Seguiu a Rainha com sua busca por um esposo
Tendo que escolher entre os nobres das cortes amigas
Um cavalheiro que por razões de Estado
Se mostrasse a opção ideal ou mais viável
E que não abalasse os ditames da nobiliarquia

Acabou por aceitar proposta
De um jovem Delfin
Mancebo de muitos requintes
E modos por demais delicados
Descendente direto do Rei Sol

Orgulho de sua família
Sempre coberto de plumas e brocados
Herdeiro de um vasto império
Pelos quatro continentes espalhado

Dotado de um olhar evasivo
Sempre voltado para o infinito
Sem nunca atentar para quem estava ao lado

O casamento foi celebrado
Sem demora ou embaraço
Pois tensões de fronteira
Necessitavam de soluções ligeiras
Que evitassem a guerra
E inocentes perdas

Seguiu-se um tempo
De absoluta calmaria no Reino
Mas cinco anos se passaram
E o abençoado matrimônio
Não conseguia dar ao povo
O herdeiro tão esperado

Observando que desta forma
Não aconteceria a procriação
Os conselheiros da corte
Propuseram uma à Soberana
Uma engenhosa solução

Os anciões se revesariam em fila
Em visitas íntimas ao gabinete da Rainha
Até que tal operação redundasse
Na tão desejada gestação

Seria desta forma o rebento
Independente do pai que teria
Fruto da mistura dos mais puros sangues
Daquelas nobres dinastias
Não podendo nascer nativo mais perfeito
Fosse varão ou rapariga

A iniciativa foi perpetrada
Não demorou muito mostrou-se acertada
E a gravidez foi por todos festejada
E salvaguardada com todas as atenções necessárias

Até que em nove meses a nação foi brindada
Com uma menina de imaculada perfeição
De pele muito alva e delicada
Pérola de beleza nunca antes observada

A Princesa cresceu cercada de mimos e privilégios
Preparada por sábios de renome
Talentos de todas as artes e estilos
Treinada em línguas
Nas práticas da guerra e da política

Uma verdadeira líder para o povo
Que já desde a adolescência
Mostrando têmpera e incomum discernimento
Poderia ser recrutada a qualquer momento
A conduzir os destinos do Reino

...

Enquanto isso os ciclos da natureza seguiam
As águas oceânicas foram baixando
E as antigas terras submersas
Emergiram carentes de atmosfera

O Príncipe herdeiro atento aos acontecimentos
Retornou com o remanescente de seu povo
Para reconstituir sua tribo
Por tantos anos exilada em terras distantes
Nunca configurada como solo de suas raízes


Ao tomar conhecimento
Do ressurgimento do antigo arquipélago
E confirmando no mapa que ele se situava
Em áreas territoriais do Império
A Rainha programou-se para visitar seus novos domínios
Para inventariar o terreno ordenar a construção de benfeitorias
E a fundação de cidades

Surpreendeu-se ao quando lá chegou
Defrontando-se com um povo altivo e determinado
Uma comunidade colaborativa e entusiasmada
Já com suas casa erguidas de forma muito criteriosa e organizada
Que aparentemente não se sujeitaria a um reinado desconhecido
Ou poderia servir de mão de obra escrava
A comitiva real ao desembarcar na ilha principal
Evocou a presença de quem pudesse falar
Em nome de todos aqueles cidadãos
Aparentemente tão felizes e saudáveis

Foi foi conduzida junto ao Representante daquela gente
Que os recebeu de forma firme e amigável
Deixando claro que visitantes seriam sempre bem vindos
Desde que se comportassem como bons amigos
Respeitando a liberdade e tradições do lugar

Iniciaram assim rapidamente entendimentos
Para que não houvesse dúvidas injustiças

A comitiva também era composta pela bela Princesa
Que ao fazer sua primeira contribuição ao colóquio
Não conseguiu se desviar o olhar encantado do jovem Monarca

Uma ligação sobrenatural
Fortíssima e inexplicável
Se estabeleceu de imediato entre o Príncipe e a Herdeira
Como se as almas se completassem naquele preciso átimo

Ficando claro que não haveria beligerância
Mas sim harmonia e tolerância

Decidiu-se que o arquipélago
Seria considerado protetorado autônomo do Reino
Tendo suas leis e direitos conservados
E que iniciaram-se os preparativos
Para que se efetivasse a união do magnífico casal
Recém formado

O matrimônio aconteceu como programado
E num e como uma consequência inevitável
Num breve intervalo surge um varão
Rebento de pura estirpe
De nobreza e autenticidade ligada à renovada nação
Seguindo-se assim um período de paz, fartura e felicidade


Alguns anos se passaram
E após vagar pelo mundo
Sem saber que o filho tinha sobrevivido
O forasteiro já velho e cansado
Lembra de seu passado

Ao adentrar acidentalmente ao Reino
Que tantos sentimentos um dia lhe despertaram
Vê a distância o velho Palácio
Mas não se atreve a tentar aproximação
Para não correr o risco de reativar sua antiga paixão

Foi então que na estalagem em que se hospedou
Soube da incrível história das terras que do mar brotaram
E do jovem casal de Monarcas que hoje lá habitava
Uma história de felicidade que até hoje perdurava

Imediatamente o andarilho percebeu
Que o tão aclamado Rei do lugar
Era seu filho que considerou morto ou desaparecido

Conseguiu um barco e rumou com urgência em direção às ilhas
Uma vez frente ao Soberano
E logo que se viram
Ocorreu o imediato reconhecimento

O jovem Regente
Exultante
Declarou em alto e bom som
A todos os presentes:
Este é meu pai
O verdadeiro Senhor deste lugar
A vida nos afastou
E hoje nos reúne nos tornando ainda mais afortunados

Apresentou-lhe sua esposa de beleza ímpar
O neto tão cuidadosamente criado
Herdeiro futuro de mares e terras infinitas

Mas impressionou-se com a semelhança da jovem Rainha
Com a da antiga Senhora
Considerando impossível não ser ela
Filha daquela mesma Dama

Trajou-se de forma digna e apresentável
E retornou ao Castelo
Inundado por lembranças daquele amor do passado

Ao defrontar-se com a figura
Da Soberana viúva
Refez-se de imediato o laço de ternura

Decidiram naquele momento
Que desta vez sem feitiçarias ou encantamentos
Não mais se separariam
Pois suas vidas de alguma forma
Sempre estiveram ligadas
Apesar das desventuras e do tempo

E agora com seus filhos unidos e realizados
E um neto coroando de vez todos os sentimentos
Tinha ficado claro como é caprichoso o destino
E como é impossível nos desviarmos
Daquilo que para nós foi escrito ou ficou reservado”

Final adocicado?
Feliz demais?
Um tanto bobo (devo admitir)
Mas, paciência, foi o melhor que consegui
Para encerrar esta história de uma vez!

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