27.2.15

Queres que ajude



A curar tuas feridas novamente
Mas desta vez
Não sei se conseguirei
Te dar este presente

Preciso antes que as minhas cicatrizem
Não tiveram ninguém para cuidar
Demora um pouco mais
Quando precisam sarar naturalmente

26.2.15

No meu caso



Para que haja nexo
No sexo

Não são suficientes
Carência
Tesão e aparência

Confiança
Apego e intimidade
Condimentos da relação
Precisam marcar presença

Enriquecem o sabor dos pratos
Fazem que ao final da ceia
O amor seja um presente requintado
Encontrado como o recheio da sobremesa

25.2.15

Estou indo embora



(Ela disse)

Senti o machado
Me partir o peito
Ao meio
Tarantinamente

O sangue jorrou grosso
Um jato descontrolado
E seboso
Lambuzando todo o ambiente

Acabou por marcar de vermelho
Todos que naquele momento
Tiveram a infelicidade
De cruzar a minha frente

24.2.15

A vida já me deu muitas chances



Mas também as tirou
Logo em seguida

Quando por impedimento ou acaso
Em mim não encontraram guarida

Afinal, chances existem
Para serem aproveitadas

E as disponíveis
Devem ser repassadas

Para quem delas precise
E se disponha a usá-las

23.2.15

És aquela



A quem ele insistia em ver só de frente
Sistematicamente evitando
Olhar de qualquer outro ângulo
Temendo surpreender-se

Não aceitar o que encontraria
Despencar da alegoria
Tão detalhadamente construída

Danificar a fantasia
Que vestiu sua mente
Por todo o carnaval
E não abandonou até o presente

20.2.15

O que temos para hoje?



Depressão e tristeza
Expostas em pencas
Sobre as bancas de feira

E como produtos de época
Nem precisam de grandes apelos de venda
Para serem levados pela clientela

Com facilidade convencem o incauto
Com o argumento
De não custarem nenhum centavo

Mas nem tudo que nos é dado
Deixa de ter preço (e neste caso)
Há o ônus do sofrimento

E mesmo que não o queira
Invade a pessoa como uma retroescavadeira
Que de forma truculenta vai ganhando espaço

E para isso basta que o sujeito
Se mostre sensível, permeável
Ou ligeiramente fragilizado

19.2.15

Por que gastas



Todo o amor que te dei
Neste jogo de cartas marcadas
Onde a vitória na primeira rodada
É só uma mera armadilha
Para que te iludas
E coloques em risco
O que guardaste com tanto sacrifício
Tornando-te um simples pato
Pronto para ser depenado no cassino?

18.2.15

Hoje, minha presença aqui



Em certa medida
Pode ser vista como um lapso

Conjunção caótica de fatos
Que contribuíram para me manter

Andando predominantemente
Sob o comando do acaso

Reconheço que um pouco se deveu
Aos meus próprios passos

Também consigo entender
A devida importância dos muitos lastros

Aqueles que fizeram pesar mais meus sapatos
Impedindo que me perdesse no espaço

E aumentaram a aba do meu chapéu
Limitando a visão que tenho das nuvens no céu

13.2.15

No ápice da emoção



Sua cega paixão
Como qualquer paixão
Viu somente o que quis ver

Arriscou-se
Usando apenas
Os olhos do querer

E hoje sofre
Ao examinar as ruínas do castelo
Tentando entender melhor a razão
De tudo ter se transformado em desilusão

12.2.15

Quando o amor passa a representar perigo



Não coma do que lhe é desconhecido
Pode não ser digerido

Evite o pensamento fixo
Troque o disco

Se está em viagem
Mude o destino

Não mergulhe no delírio
Retorne por outro caminho

Abrevie a infelicidade
Permita-se o reequilíbrio

11.2.15

Lançaste mão



De desculpas estúpidas
Teorias desencontradas
Absurdas
Alheias a ti
Construindo justificativas
Para o que não tiveste coragem de fazer

Sufocaste as vontades
Esquivando-te do esforço
De viver um amor de verdade
Fixada nos traumas do passado
Achando que assim evitarias
Os riscos e o sofrer

Mas o tempo passou e com o era esperado
Hoje lamentas o prejuízo
Vivendo afogada no arrependimento
Por teres jogado no lixo um artigo de luxo
Que te foi dado sem custo
E qualquer um pagaria fortunas para ter

Um sentimento puro
E delicado
Num pacote embalado
Carinhosamente adornado
E nem ao menos tiveste a curiosidade
De abrir para ver

10.2.15

Hoje resolvi mudar



Vou querer meu ovo
Com gema mole
Pincelado por cima
Com esta sua manteiga de ervas finas

Café com leite mais escurinho
Suco de melancia
Pão feito em casa bem quentinho
Geleia de tangerina

E me passe aí o caderno de esportes
Já que o resto só mostra desgraças
Tão repetidas que perdem a graça
Não impressionando mais como notícia

9.2.15

Quando a mente insiste no não



E o corpo suplica o sim
Só o sentimento poderá dizer
Quem será premiado na decisão

6.2.15

Se por descuido ou desleixo



O amor for deixado de lado

Fragilizado
Será tragado pelo passado

E se nele ficar confinado

No escuro
Acabará mudo e asfixiado

5.2.15

Prometa que continuará a me amar



Mesmo que o tempo
Pare de parar

E que este momento
Este nosso ajuntamento

Torne-se apenas uma boa lembrança
No passado condenado a morar

4.2.15

Não quero tua compaixão



Mas aceito ajuda
Desde que baixes a guarda
E abras a mão

Retomemos nossa antiga relação
Se não mais me enxergas como teu
Então soltas meu coração

Que ainda está preso
Em teu punho cerrado
Me impedindo a respiração

3.2.15

É pura ingenuidade ou ilusão



Acreditar
Que umas poucas noites
Representem mais
Que as outras tantas
E dias e dias
De cruel solidão

2.2.15

Esta modalidade de amor



Que dói
E faz sofrer
Para ela foi novidade

Só conhecia
Aquela que sempre lhe trouxe
Prazer e felicidade

Pegou-a desarmada
Não a amordaçou
Permitindo que gritasse

Mas amarrou seus pés e mãos
E a açoitou
Sem piedade