31.1.18

Esquecer não é uma forma de negar a existência


É ter que perder aquilo
Que não coube onde estava hospedado

É aceitar o equívoco de se manter algo
Que sabidamente estava em lugar errado

É precisar ceder acomodações dignas
Para o que chega todo dia exigindo espaço

É fazer voltar à biblioteca do mundo
Um livro com prazo de devolução expirado

Há o esquecer adoentado
Que precisou de tratamento e quarentena para ser reabilitado

O esquecer que não mudou de lado
Mas lá dentro mesmo foi sepultado

O esquecer que hiberna por longo tempo
Para um dia quem sabe acordar sedento e esfomeado

O esquecer que perdeu-se no mundo
E que depois volta batendo à porta arrependido e necessitado

O esquecer querreiro
Que lutou muito antes de ser exonerado

Debateu-se e ferido gravemente
Espalhou por todos os lados o sangue de seu pulso cortado

Esquecer é uma necessidade na sobrevivência
De quem ama ou é amado e também na de quem não ama ou não é amado

Deixando dentro apenas o que importa
Mantido engatilhado e em algum momento apto para ser usado

Como decidir o que sai ou o que fica?
A alma com seus mistérios fazem com que isso não nos seja claro

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